Consumering

Se o marketing adapta um negocio ao mercado o que que fazem as empresas que se adaptam ao consumidor? Fazem Consumering. Um blog de artigos sobre como transformar uma empresa comercial num negocio de produtos preferidos pelos consumidores. www.consumering.pt

28/01/2004

27 - O bom penetra não paga bilhete


A 18 de Abril de 2001, no estádio olímpico de Munique, esperava-se o jogo dos quartos de final da Liga dos Campeões entre o Bayern local e o Manchester United. Os ingleses precisavam de recuperar da derrota na primeira mão, e por isso entraram em campo com 12 jogadores. Não lhes serviu de nada, porque o resultado foi uma nova derrota, mas a verdade é que, na tradicional foto de equipa, Karl Power um desempregado de Manchester, aparece equipado a rigor ao lado dos restantes jogadores. Uma ousadia que lhe granjeou a atenção do público. Desde então, Karl conseguiu subir ao pódio em Silverstone, jogar no court central de Wimbledon e alinhar pela selecção inglesa de cricket. Usando para tal um esquema muito mais barato do que as marcas que pagam para patrocinar esses mesmos eventos.

As marcas são autênticos penetras nos eventos que patrocinam. Demasiadas vezes não deviam lá estar e só são bem aceites na condição de passarem despercebidas. Tal como Karl Power, as marcas vestem-se a rigor e entram de mansinho no terreno do jogo, desejosas tanto de serem vistas quanto de não atrapalhar. Dois objectivos antagónicos cuja concretização é um dos maiores sugadores de dinheiro nos orçamentos das marcas.

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21/01/2004

26 - A princesa esquecida


Era uma vez, um rei e uma rainha que esperaram muitos anos por um filho, até que nasceu uma menina, à qual chamaram Aurora. Felizes, os reis, convidaram todas as fadas do reino para conceder graças à princesa. Todas? Todas não, esqueceram-se de uma. A fada esquecida ficou muito ressentida e rogou uma praga à menina: A princesa Aurora, aos 15 anos, havia de se picar numa roda de fiar e adormecer para sempre. Passados 15 anos, no próprio dia do seu aniversário, Aurora encontra uma roda de fiar e sem se lembrar da maldição, fê-la cumprir-se. Nos contos Infantis, como os dos Irmãos Grimm, o esquecimento tem muitas vezes um papel principal. Desde os sapatos de cristal, até aos conselhos dos avós, os heróis das histórias esquecem-se daquilo que sabem, originando todas as peripécias e respectivas lições de moral. De acordo com as histórias de fadas, saber é uma coisa, lembrar-se de fazer é outra bem diferente, um ensinamento que muito aproveitaria os publicitários que enfabulam a notoriedade.

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14/01/2004

25 - Ou há moralidade ou comem todos


A Ética é um palco de confronto e em nome do bem esgrimem-se tantas espadas quantas ideias. As espadas estão sempre alinhadas para a cruzada, enquanto as canetas, desde o Séc. XIX, que se debatem por dois conceitos: a Deontologia e o Utilitarismo. O primeiro, a Deontologia defende que o bem é atingido pelo cumprimento do dever. Do lado da Deontologia, destaca-se Kant e a sua nuance particular em que um caracter virtuoso é identificável pela disposição robusta para cumprir o seu dever. Já a teoria oposta, o Utilitarismo, é devida a Jeremy Bentham, um contemporâneo de Kant, ainda que muito menos famoso. Bentham, sustenta que as acções certas são as que proporcionam o maior bem ao maior número de pessoas. Assim, o bem, não se encontra no dever, mas sim no atingimento de um bom fim. Ou seja, o Utilitarismo é uma forma elegante de argumentar que os fins justificam os meios, algo que faz todo sentido na publicidade.

A publicidade é Utilitarista, o seu fim é vender e o meios até se compram. Assim a diferença entre boa e má publicidade só se mede na facturação. Já que a tentativa de manipular o consumidor através da publicidade, não é propriamente moral. E já agora também, ficar a dever não condiz muito bem com as vendas. A bem ou a mal, na publicidade, o que vende é bom, o que não vende é mau.

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07/01/2004

24 - O AD-nauseum de uns é o déjà-vu dos outros


“Quando nas alturas o céu não fora nomeado. E embaixo, solo firme não fora chamado”, assim começa o Enuma Elish, um poema sumério, considerado o texto mais antigo da humanidade e que, apropriadamente, descreve a criação do universo. Sobre o mesmo assunto e muito mais novo, também o Antigo Testamento se escreve em verso: “No início era o verbo, e o verbo estava com Deus”. Outro poema, o Rig Veda, é o mais antigo texto hindu. Ou seja, nas origens da cultura estão os versos, uma ligação imortal que se verifica até em culturas mais recentes. É tanto assim, que os versos de Dante, Shakespeare ou Camões apadrinham a língua do seu próprio povo. Com ou sem rima, a poesia é um passaporte para a imortalidade, porque a estrutura repetitiva dos versos tem o poder de interferir com a memória. Prosaicamente, é a repetição da métrica, das sílabas e até dos sons em cacofonia, que permite aos poemas serem lembrados. Até na publicidade, onde desde os pitorescos tempos do jingle e propaganda, o poder da repetição é reconhecido.

Aquilo que o gestor da marca já vê nos sonhos, o consumidor apenas terá começado a reconhecer. Ninguém está tão atento à publicidade quanto quem paga por ela, por isso, é perfeitamente normal que determinada campanha enjoe o anunciante muito antes de ocupar algum espaço na cabeça do consumidor. Não há que temer a repetição. Tal como os versos, a publicidade deve se repetir, repetitivamente, até ao ad-nauseum, porque mais vale repassar, do que passar despercebido, sem chegar a causar, um ligeiro déjà-vu.

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