Consumering

Se o marketing adapta um negocio ao mercado o que que fazem as empresas que se adaptam ao consumidor? Fazem Consumering. Um blog de artigos sobre como transformar uma empresa comercial num negocio de produtos preferidos pelos consumidores. www.consumering.pt

12/02/2009

A propósito do Proteccionismo

Os portugueses são um dos povos europeus que tem menos orgulho nos seus produtos. É uma constatação dura mas infelizmente verdadeira e amplas vezes demonstrada. Esta xenofilia do consumo é prejudicial para a economia nacional, por diversas razões e seus efeitos. Porque descapitaliza o País, enfraquece a produção, mina a exportação, perde o valor e toda uma panóplia de más notícias que não são coisa que a economia tenha em falta. Posto isto, a questão que fica por esclarecer, é o que fazer para contrastar com este estado das coisas.

Quando se trata de missões impossíveis, o marketing e a publicidade são frequentemente e inutilmente chamadas a fingir resolver. O que não faz sentido nenhum, como neste caso do consumo português de produtos portugueses também não. As campanhas de ?compre o que é nosso? não têm possibilidade de vingar por dois motivos:

Por um lado porque os portugueses não preferem os seus produtos desde que foram vítimas de 50 anos de campanhas de ?compre o que é nosso?
extremamente musculadas. Desde a segunda guerra mundial que o condicionamento industrial, o proteccionismo das fronteiras, a desvalorização do Escudo e o país na banca rota entregue ao FMI, forçaram os portugueses a comprar o que era deles. O resultado destas cinco décadas de privação foi uma profunda e fundada desconfiança sobre a qualidade dos produtos portugueses. Se dermos uma volta pelos países de leste vemos como o proteccionismo dos governos comunistas produziu efeitos semelhantes e não há campanha de publicidade que dê a volta ao problema da má qualidade.

O segundo motivo para a ineficácia das campanhas de auto-consumo, é que estas tendem a ser irrelevantes para os consumidores para se ocuparem apenas ao bem-estar dos promotores. E conseguem-no dizendo:
?compre porque é português? em vez de apontarem ?compre porque é melhor? ou então insistindo em ?compre para ajudar a economia da fábrica? em vez de dizerem ?compre para ajudar a economia do seu lar?.
Não é nada bonito pedir a um consumidor que abdique do seu conforto e gratificação para beneficiar uma cambada de empresários e industriais que ele não conhece. Assim, da mesma forma que as campanhas de ?compre o que é nosso? tendem a ignorar os legítimos anseios dos consumidores, também o consumidor português tende a ignorar aquilo que lhes pedem que façam nessas egoístas campanhas.

Um consumidor, independentemente da sua nacionalidade, não compra um sapato, uma cadeira ou um automóvel porque este foi feito a menos de 300 quilómetros de sua casa. Toda a gente, quando compra, compra apenas baseada no resultado de uma complexa equação do que lhe custa o mínimo para lhe render o máximo. Num total egoísmo individualista, semelhante ao que rege o funcionamento dos mercados. Todos os mercados, do Bolhão ao Nasdaq.

Em súmula, para que o consumidor português, compre português, essa compra tem antes de mais de ser imediatamente vantajosa para ele e independentemente do efeito que essa compra causar em terceiros. Ou não fossem as externalidades uma das medidas mais difíceis de quantificar do economês. Ainda por cima porque os portugueses têm amplas razões de queixa das campanhas anteriores, que lhes restringiram o acesso aos produtos internacionais, deixando como marca uma desconfiança profunda sobre os méritos dos produtores nacionais.

Pode uma campanha de publicidade aumentar o consumo de produtos domésticos? Bem, pontual e marginalmente, sim. Se for bem apontada, se indicar com precisão e do ponto de vista do consumidor, quais são os produtos que, por serem portugueses, são também melhores do que os produtos internacionais, talvez funcione. Não basta dizer ?compre o que é português?, nem tão pouco que ?sacrifique-se comprando aos portugueses? é preciso indicar quais os produtos que são melhores em Portugal. Para tal, convém que haja produtos melhores em Portugal.
Afinal, esta não é uma questão de percepção, pois nenhuma percepção justifica parar em Elvas quando o gasóleo é 20 cêntimos mais barato em Badajoz.


(opinião para o Jornal de Negócios)

6 Comments:

  • At 1:17 da tarde, Blogger lookingforjohn said…

    No sofá em frente à TV, "compre porque é nosso", sim, senhor, acho bem, há que apostar no que é nosso, tem que ser, temos que nos ajudar uns aos outros, etc., etc., totalmente de acordo.
    (pausa de 30 minutos)
    Hmmm... precisava de comprar uns sapatos... já sei, vou à loja ABC (francesa), ver material da marca DEF (italiana), que é bom apesar de ser caro. Ah! E de caminho páro na GHJ a ver aquele casaco de inverno (chinês) que ficava "em conta".

     
  • At 2:15 da tarde, Blogger Consumering said…

    A propósito o ITP recebeu mais 4 milhões de euros nossos numa campanha do turismo interno. Imagens muito lindas, mas como sempre esquecem-se de dizer onde ficam. Uma chatice esta tendencia para fazer publicidade descomprometida.

     
  • At 11:33 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    O problema não está na publicidade, mas sim na relação preço/qualidade, como o autor disse - e bem. Eu não preciso que me venham dizer que os vinhos do Alentejo, ou os enchidos da Beira, são bons. Toda a gente sabe disso. Em qualquer restaurante médio de Londres ou de Paris, paga-se 30 euros por um vinho (francês) equivalente a um vinho português de 4-5 euros.

    Tal como não preciso que me recordem, que temos paisagens bonitas ou boas praias. Mas tudo isto é fruto da nossa geografia. Não é mérito nosso. Se falarmos de casas, produtos, serviços, filmes, etc, é outra história. Há coisas boas, mas a média é muito fraca. E há coisas francamente más.

    De quem é a culpa? Dos portugueses, obviamente. Se um empreiteiro pode poupar uns euros, lixa-se para a qualidade. Se um realizador pode sacar uns subsídios e fazer um filme para os amigos, lixa-se para o público. Se um funcionário pode trabalhar menos, ou deixar para amanhã, quase sempre o faz.

    E TODOS NÓS SABEMOS DISTO. Por isso é que desconfiamos do que é nacional. Sabemos do que a casa gasta. Os portugueses só são de confiança, quando são dirigidos por outros povos - como por ex. numa Autoeuropa, ou no caso dos emigrantes.

    Para ultrapassar esta realidade, não bastam cartazes ou anúncios. O problema é estrutural. Os portugueses não compram o que é nacional, porque os produtos são como os portugueses: têm má relação preço/qualidade.

     
  • At 1:46 da tarde, Anonymous Daniel Soares said…

    Os pontos descritos anteriormente, são características de povos latinos.
    O de deixar para amanhã, trabalhar menos, falta de disciplina ( e ainda se poderiam apontar alguns mais).

    No entanto temos a espanha ao nosso lado, a italia logo a seguir.
    Povos com raízes parecidas às nossas e com características parecidas às nossas que no entanto dominam o MUNDO da moda, alimentação, (tecnologia), etc.

    I isto deve-se a...?

     
  • At 4:05 da tarde, Blogger Consumering said…

    caro Daniel,

    isso é uma longa história... dá para começar por aqui:

    http://consumering.blogspot.com/2004/09/1-ii-reformar-portugal.html

    mas sei de gente que já escreveu livros inteiros sobre o assunto.

     
  • At 12:11 da manhã, Anonymous Daniel Soares said…

    Sabe-se que é um tema complexo, quem vém de há muito tempo atrás e que por isso mesmo é dificil de mudar.
    Acima de tudo , nós, portugueses precisamos de mudar a nossa mentalidade. Mudar até é pouco, precisamos de uma verdadeira revolução. Eu diria que precisamos de uns inputs "nórdicos". Isto não significa que Portugal como povo latino deva perder a ligação à sua "Herança", às suas características positivas.
    Pelo contrário, significa que devemos ter um pouco mais de disciplina e organização alemã, um pouco do positivismo e optimismo espanhol ou brasileiro, um pouco de eficácia escandinávia.

    Claro que não é assim tão linear, muito menos fácil. Mas é onde somos bons que nos devemos focar e onde somos maus, que nos devemos inspirar, nos melhores.

    Devemos ser humildes e reconhecer que de facto somos um país pequeno,mas devemos ser ambiciosos e tentar competir com os melhores. Sem medo!

     

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